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Oficina breve de inteligência emocional
- 18 de janeiro de 2025
- Postado por: Alessandra Gonzaga
- Categoria: Mindfulness
Situação: a professora inicia a primeira semana de aulas à distância propondo para a turma uma questão instigante: liste os seis principais sentimentos que você tem percebido nos últimos dias.
Os alunos, adolescentes entre 14 e 16 anos do Ensino Médio, fazem algumas perguntas no chat online, entranhando a natureza do exercício, até que começam a produzir suas respostas seguindo o exemplo dos primeiros corajosos.
Em seguida, a professora complementa o enunciado e pede para que os alunos desenhem do lado da palavra que do sentimento uma figura para sua representação abstrata, a partir de um traço ou símbolo (não valem feições humanas).
O resultado desse exercício, que poderia estar em uma oficina de inteligência emocional, ganhou a foto da figura abaixo, enviada à professora na sequência. Esse exemplo é de uma aluna adolescente do Ensino Médio, que podemos chamar nesse artigo de Mariana, a fim de preservar sua identidade.
Mariana é uma menina descontraída, sensível e inteligente, que tem facilidade em falar de seus sentimentos. As respostas ao exercício servem como uma “média boa” da valoração emocional e da representação de suas emoções. Por pequena amostragem em sua turma é possível dizer que seus sentimentos são compartilhados por boa parte de seus colegas.
Pelo momento que vivemos, é possível que seja também compartilhado por centenas ou até milhares de outros estudantes, em diferentes regiões e países. Interessante é que o exercício havia sido feito na última sexta, antes que ela soubesse que não iria iniciar suas aulas presenciais e híbridas.
Sua região está em estado de alerta máximo do Covid-19. Ela deve permanecer acessando suas aulas de forma remota. Sabe que deveria sentir-se grata por isso, uma vez que muitas outras crianças simplesmente estão sem aulas. Mas não há alegria em sua lista, ao contrário, a unanimidade é de sentimentos negativos. Pela ordem: confusão, nervosismo, impaciência, indecisão, depressão, tristeza.
Podemos analisar esse exercício de diversas formas. A mim chamam atenção algumas, que aqui pontuo para posterior comentários:
- O VALOR DE NOMEAR: A primeira coluna do exercício “top 6” de Mariana traz a representação racional (lado esquerdo do cérebro) das emoções, que se obtém por meio de vocabulário específico para tal. Simplesmente encontrar a palavra que melhor descreve um sentimento já requer uma consciência básica dele. Esse é um primeiro contato importante;
- A FORMA QUE REVELA: A segunda coluna traz a representação abstrata (lado direito do cérebro) das emoções, que se obtém por meio das formas, imagens e cores. Ao planificar o sentimento em um traço que lhe revele é possível mergulhar em sua subjetividade. A força no traço, o uso da cor e a presença da sombra podem, por exemplo, apontar o nível de energia, a intensidade e até mesmo a valoração (se positiva ou negativa) de cada emoção.
- CONFUSA E DEPRESSIVA: Feitas essas primeiras percepções de contexto, vale observar especificamente a lista de Mariana. Chama atenção que confusão seja tão próxima em representação da depressão. E que tristeza esteja tão “fraca” em energia. Assim é que vemos que depressão, não aquele quadro clínico, mas essa que sentimos todos nos últimos meses, não é um sentimento correlato a uma tristeza intensa, mas a um esgotamento de recursos mentais e emocionais. Ou seja, o mundo de Mariana está em boa parte confuso e depressivo;
- SOFRIMENTO EMOCIONAL: Sim, também chama atenção a ausência de emoções positivas. Pouco a acrescentar aqui, além de que é esperado que entre um item da lista e outro Mariana deva sim ter momentos de respiro para emoções positivas. Mas seu mundo emocional está em crise. Ela está em sofrimento.
Trago esse exercício com a intenção de que possamos nos permitir falar sobre nossos sentimentos. A emoção que você reconhece é aquela que você pode dominar. Mariana explicou o que significava sua lista e como era possível “migrar” de uma emoção à outra. Ao final do exercício, disse que se sentia melhor.
Recentemente em um congresso de inteligência emocional para educadores que pudemos participar pela Conexão IE, o professor Marc Brackett, autor do livro Permission to Feel e um dos idealizadores da metodologia RULER para educação emocional nas escolas, aproveitou a oportunidade para enfatizar a importância de reconhecermos nossas emoções.
“If you name it, you can tame it.” Marc Brackett, PhD
Nas palavras do professor Brackett, se você consegue nomear uma emoção, esse é o primeiro passo para que você possa regular os efeitos dessa emoção em você. Evitar sentimentos não é a melhor forma de lidar com eles. Por isso em seu método RULER, na verdade um acróstico para habilidade de inteligência emocional de seu método voltado às escolar, o primeiro “R” vai para “RECOGNIZE” ou reconhecer as emoções em nós e nos outros.
Se chegou até aqui e tiver achado interessante o exercício de Mariana, te convido a repetir essa oficina breve de IE, considerando seus “top 6” sentimentos. Quais são eles? Como você os representaria de forma abstrata? Que pensamentos e comportamentos cada um deles te traz? Tire um tempo para entrar em contato com seu “EU” emocional, sem preocupação em racionalizar a experiência. O principal objetivo, de contato e acolhimento de suas emoções, já terá sido atingido. 😉